O
museu
portátil
como uma coleção de imagens virtuais dentro de um HD ou milhares
deles armazenados numa nuvem e acessíveis através de um dígito
apertando uma única tecla: eis o cumulo do portátil, eis o mais
denso dos panoramas.
Esta
recente e banal forma de colecionar dados e imagens não existia
quando duchamp,
picabia
e seus amigos dadás, criaram a sociedade secreta dos artistas
portáteis descrita com todas suas peripécias e aventuras
mirabolantes por enrique vila-matas na história
abreviada da literatura portátil (1985).
A história
narra as andanças de um grupo de intelectuais, pintores e escritores
que, em 1924, decidem fundar uma sociedade secreta. Conhecidos como
portáteis ou shandys –
uma homenagem a Tristram
Shandy,
personagem de Laurence Sterne e a um refresco a base de cerveja – o
grupo, seletíssimo e obscuro, tem entre seus ideais o amor à
escrita como diversão, o espírito inovador e a autoria de obras que
pudessem caber facilmente em uma maleta ou “valise” como duchamp
bem disse. (ou debaixo do braço de uma criança, como digo bem eu
com a trena marcando 40 centímetros).
O vila-matas (op.cit) lembra
algumas passagens memoráveis desses dadaístas que aqui transcrevo:
“o que foi reduzido se
acha, de certa forma, livre de significado. Sua pequenez é, ao mesmo
tempo, um todo e um fragmento. O amor ao pequeno é uma emoção
infantil”
duchamp.
“só as sensações
mínimas e de coisas pequeníssimas são as que vivo intensamente.
Talvez isso acontece por causa do meu amor ao fútil... é por que o
mínimo por não ter em absoluto nenhuma importância social ou
prática tem, por causa dessa mera ausência, uma independência
absoluta de associações turvas (ou difusas) com a realidade. O
mínimo me soa sempre irreal, até os livros inspirados preferíamos
curtos”.
George Antheil
Ao que Paladino, o curador,
acrescenta: até as grandes obras preferimos pequenas, ou mínimas,
como a nossa galeria.
Celebramos assim aquela
sociedade dos anos 20, não menos secreta do que efêmera que
vila-matas descreve com suma propriedade e sugerimos o tamanho
(mínimo) como estratégia estética contraposta ao gigantismo da
cidade que ruge da pequena porta da galeria para fora. Aqui dentro
imperam: o silêncio de Cage, o vazio do mundo e a cor inexistente.