quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A modo de explicação


O museu portátil como uma coleção de imagens virtuais dentro de um HD ou milhares deles armazenados numa nuvem e acessíveis através de um dígito apertando uma única tecla: eis o cumulo do portátil, eis o mais denso dos panoramas.
Esta recente e banal forma de colecionar dados e imagens não existia quando duchamp, picabia e seus amigos dadás, criaram a sociedade secreta dos artistas portáteis descrita com todas suas peripécias e aventuras mirabolantes por enrique vila-matas na história abreviada da literatura portátil (1985). A história  narra as andanças de um grupo de intelectuais, pintores e escritores que, em 1924, decidem fundar uma sociedade secreta. Conhecidos como portáteis ou shandys – uma homenagem a Tristram Shandy, personagem de Laurence Sterne e a um refresco a base de cerveja – o grupo, seletíssimo e obscuro, tem entre seus ideais o amor à escrita como diversão, o espírito inovador e a autoria de obras que pudessem caber facilmente em uma maleta ou “valise” como duchamp bem disse. (ou debaixo do braço de uma criança, como digo bem eu com a trena marcando 40 centímetros).
O vila-matas (op.cit) lembra algumas passagens memoráveis desses dadaístas que aqui transcrevo:
o que foi reduzido se acha, de certa forma, livre de significado. Sua pequenez é, ao mesmo tempo, um todo e um fragmento. O amor ao pequeno é uma emoção infantil” duchamp.


só as sensações mínimas e de coisas pequeníssimas são as que vivo intensamente. Talvez isso acontece por causa do meu amor ao fútil... é por que o mínimo por não ter em absoluto nenhuma importância social ou prática tem, por causa dessa mera ausência, uma independência absoluta de associações turvas (ou difusas) com a realidade. O mínimo me soa sempre irreal, até os livros inspirados preferíamos curtos”. George Antheil


Ao que Paladino, o curador, acrescenta: até as grandes obras preferimos pequenas, ou mínimas, como a nossa galeria.


Celebramos assim aquela sociedade dos anos 20, não menos secreta do que efêmera que vila-matas descreve com suma propriedade e sugerimos o tamanho (mínimo) como estratégia estética contraposta ao gigantismo da cidade que ruge da pequena porta da galeria para fora. Aqui dentro imperam: o silêncio de Cage, o vazio do mundo e a cor inexistente.