terça-feira, 21 de novembro de 2017

Sob o Céu do Brasil - objetos de Juvenal Pereira





abertura: 24 de nov 20h






algum paralelo há de existir entre o tamanho destas obras e o da galeria, além de estarem ambas sob o céu do brasil e serem recortes de um vasto mundo que cada vez mais nos cobre de incertezas, nuvens passageiras e brilhos de estrelas distantes que talvez não mais existam. que não há nada de novo entre o céu e a Terra deixou de ser verdade posto que vivemos imersos em um mundo de novidades e o futuro nos espanta. mas cá está a obra de juvenal pereira que, como bom mineiro naquele mar de morros, durante o nevoeiro, leva o barco devagar. na voragem do quotidiano, ele propõe uma pausa para um olhar "atento e concentrado" como disse evandro nicolau, no corredor da nossa galeria que parece ampliado pelas imagens e a memória que elas evocam. instaladas de modo a flutuar no suporte que as emoldura, as fotos documentam a longa trajetória do autor enquanto as relíquias de um desastre ambiental de 5 11 15 (um dos maiores da historia da humanidade) alertam para as barbaridades de que o homem é capaz quando movido pela formula suicida de lucro desmedido e descaso ambiental: para não esquecer.


miguel paladino/curador residente


Algo a dizer Sob o Céu do Brasil


Evandro Nicolau / Museu de Arte Contemporânea de São Paulo









A imagem existe a partir de um recorte, de uma ação de colher, de retirar uma porção visual dos fenômenos da existência. Tanto assim que chamamos, no linguajar popular, o ato de fotografar de “tirar uma fotografia”, no sentido formal de extrair parte do que observamos no espaço para que seja transformado em imagem. Imagens são produtos da memória, do passado e ao mesmo tempo se lançam como utopias futuras ao tocarem a imaginação e ao propor rupturas com a observação prosaica do presente. Imagens são pensadas e construídas como linguagem. É a partir da plena consciência dessa ação de construção da imagem que o trabalho Sob o Céu do Brasil de Juvenal Pereira apresenta uma rica memória visual de suas ações de “tirar imagens” do mundo. Ao reduzir as fotografias e também as pequenas esculturas que fazem parte desse grande conjunto de objetos, Juvenal emoldura um espaço de imaginação e poeticamente nos leva a uma observação comedida, atenta e concentrada no trabalho. Uma porção de memória, uma porção de ideologia e uma porção de utopia se amalgamam em objetos artísticos que em sua natureza diminuta se ampliam ao tocar o olhar, o pensamento e o coração do espectador.


sobre o autor


Juvenal Pereira nasceu em 1946 na cidade de Romaria-MG. A partir de 1970 atuou durante cerca de quarenta anos como reconhecido fotojornalista para vários dos mais importantes jornais e revistas do Brasil, como O Cruzeiro, Veja, Isto É, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo.


Foi um dos mentores da criação do Mês Internacional da Fotografia em São Paulo; representou o Brasil no Mois de la Photographie em Paris em 1992.


Com exposições em diversos museus, seus trabalhos fotográficos são atualmente parte de importantes coleções privadas e públicas, como a coleção do MAM Museu de Arte Moderna de São Paulo ou a Coleção Pirelli MASP.


Entre 2010 e 2014, cursou diversas disciplinas no Programa Universidade Aberta da Terceira Idade na USP Universidade de São Paulo, período em que criou performances, instalações, curadorias e palestras. Participou de coletivas brasileiras e internacionais.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Christiano Whitakes / decolagem_dapintura




apresentação miguel paladino (curador residente)




DA COLAGEM




No primeiro manifesto do Surrealismo. André Breton referia-se à colagem1 “inventada” por Max Ernst em 1933 (a célebre SEMANA DE BONDADE2) como “uma proposta de organização visual absolutamente virgem”, sem deixar de dizer, ao mesmo tempo, que correspondia, em termos de poesia, ao que buscaram Lautréamont e Rimbaud.

Ernst, por sua vez, afirmava que René Magritte, outro notório surrealista, era autor de inúmeras “colagens pintadas à mão”.




Na América Latina coube a Leon Ferrari emular esses procedimentos com uma carga de critica política à Igreja e aos regimes militares por meio de colagens e ready mades, e à moral católica e bons costumes em parahereges, onde cenas bíblicas convivem com o Kama Sutra.

Richard Hamilton (AS CASAS DE ONTEM) na Inglaterra e Warhol (SOPA CAMPBELL) nos Estados Unidos se encarregam de trazer a colagem para o mundo industrial pela técnica da serigrafia, ou de levar o mundo da indústria para dentro da colagem com um misto de crítica e elogio próprios da estética pop.

Neste universo navega Christiano Whitaker, acrescentando a suas colagens um toque de humor carioca, para circunscrevê-lo geograficamente, e um certo humor negro, para defini-lo temporalmente. Alguns dos nomes evocam estórias que a literatura imortalizou, como a do rei que enfrenta adversidades da velhice (REI LEAR - Shakespeare) e da mulher que se lança nas águas tentando alcançar a lua (ISMÁLIA, Alphonsus de Guimaraens), ou da entidade que presidia aos funerais nos quais amigos ou parentes do morto cortavam os cabelos e os jogavam numa fogueira em honra à deusa infernal. (os gregos acreditavam que PERSÉFONE fazia reencontrar objetos perdidos, lemos no Google).

A Alice de Lewis Carroll e a Leda espartana representada certa vez por Leonardo são citadas tambem pelo artista como parte instigante desta iconografia literária feita de colagens de ideias. O nosso é um tempo de recorte e colagem, CTRL C CTRL V, de informação desenfreada e consumo exacerbado, e Christiano consegue transformar esses paradigmas em alimento da arte, seu próprio combustível. As embalagens e anuncios descartados vêm protagonizar uma galeria de personagens curiosamente inusitados que acabam revelando a origem do nosso tempo, dentro do qual nós tambem somos feitos de recortes e colagem.













1 As colagens e “assemblages” constituem uma expressão caraterística da lógica de produção surrealista, ancorada na ideia de acaso e de escolha aleatória, princípio central de criação para os dadaístas. A célebre frase de Lautréamont é tomada como inspiração forte: ‘”Belo como o encontro casual entre uma máquina de costura e um guarda-chuva numa mesa de dissecção”.

A colagem é uma técnica plástica que supõe existir uma produção industrial gráfica (catálogos, revistas, folhetos, ) passivel de ser descartada, picotada, estiletada e que resulta na aplicação inusitada de recortes com um discurso quase sempre poético, aproximando elementos de origens diversas que começam a existir num mesmo campo visual com novos significados interrelacionados a favor das intenções do autor ou artista, aquele que está com a tesoura ou o estilete numa mão e a cola na outra.




2 Terceiro romance-colagem de Ernst - que já havia produzido “La femme 100 têtes” (1929) e “Rêve d’une petite fille qui voulut entrer au Carmel” (1930) -, “Uma semana de bondade” foi criada em 1933, auge do movimento surrealista, durante uma viagem de três semanas à Itália, precisamente ao Castelo de Vigoleno, cidade medieval da Emilia-Romagna. Recortando uma série de imagens de livros, jornais, romances e revistas populares na Europa desde 1850, o artista transformou entretenimento em uma ação de alerta e revolta contra os valores da época.

(http://mundocollage.blogspot.com.br/2010_06_16_archive.html).




Da pintura

Uma série de retratos e outra de ictiografias compõem este conjunto de pinturas de Christiano, apresentadas na galeria como uma sequência enfileirada lembrando um corredor polonês, em cuja travessia o visitante certamente haverá de apanhar. Mas o espírito curioso não quer passar rapidamente e sim, antes, deter-se na observação destes rostos extremamente expressivos, nos quais a angústia é superada pela surpresa que um ornamento ou prótese pisciforme pode provocar. Seres imaginários como aqueles descritos pelo Padre Zallinger em “Animais nos Espelhos”,(*) onde “el Pez era un ser fugitivo y resplandeciente que nadie habia tocado, pero que muchos pretendian haber visto en el fondo de los espejos” ou como a rémora (peixe que, na época das primeiras navegações ultramarinas, trnava mais lentas as caravelas).

Os nomes dos retratados guardam uma ambígua função, já que parecem identificar pessoas que realmente existem e, ao mesmo tempo, parecem nomear seres imaginários ou literários cujas biografias, em aberto, sugerem narrativas fantásticas. Mas nossa fruição pode tambem prescindir das legendas e apreciar a plástica e a elegância que estes bustos transmitem, e recuperar assim o ato da pintura no seu estado mais espontâneo e expressivo. De uma maneira ou de outra nunca seremos os mesmos depois de atravessar o corredor polonês que o artista montou no estreito da galleria, onde as cores, os olhares e as legendas parecem representar o eco do eco de um sentimento (**).







(*) El libro de los seres imaginarios de Jorge Luis Borges. / (**)Eco de Jorge Drexler



o mundo do atelier & o atelier do mundo

um percurso pelos corredores do amplo apartamento de Christiano em Copacabana é uma viagem em vários sentidos. A convivencia de objetos que o tempo foi acumulando é uma colagem da sua obra na arte da vida, ou da sua vida na obra de arte, ou qualquer outra combinação desses fatores que possa nos ocorrer aleatória e indistintamente. Um caos rigorosamente criado pelo artista aproxima estatuetas da Birmânia ou do Vietnam com fotos da familia, arte indígena e móveis marchetados; telas de amigos com esculturas chinesas e desenhos das netas - assim deve parecer o mundo a este inquietante artista: uma experimentação constante onde praticamente tudo é quase sempre possível ou onde quase nunca nada morre tudo. Convivência talvez seja o termo que melhor define a sua estética, assim como o espontâneo ou o improviso definem sua ética.




lista de 38 obras (30 na galeria e 8 no jardim)

Colagens

01. O Sonho- colagem s/cartão; 56 x 67 cm, 2015

02. Arlequim - acrílica e colagem s/cartão; 68 x 59 cm, 2011

03. Alice e o Gato - acrílica e colagem s/papel; 56 x 48 cm, 2009

04. Leda e o Cisne - acrílica e colagem s/cartão; 40 x 50 cm, 2010

05. O Namorado - acrílica e colagem s/papel; 45 x 49 cm, 2008

06. Maternidade - acrílica e colagem s/cartão; 68 x 59 cm, 2010

07. O Pregador - acrílica e colagem s/tela; 50 x 70 cm, 2016

08. O Grão Mestre- acrílica e colagem s/papel; 55 x 65 cm, 2016

09. Rei Lear - acrílica e colagem s/papel; 65 x 48 cm ,2010

10. Selfie - pastel aquarelável e colagem s/papel; 30 x 42 cm, 2016

11. Día de los Muertos – acrílica, pastel e colagem s/papel; 30 x 42 cm, 2014

12. Perséfone- colagem s/papel 40 x 50 cm, 2016

13. Miss Cartier- colagem s/cartão entelado; 30x46 cm, 2016




Pinturas

14. Nimrod – acrílica s/tela; 70x50 cm, 2015

15. Rei Peixe Rei– pastel seco e hidrográfica s/papel; 60 x 71 cm, 2016

16. Pescadora 1– pastel seco e carvão s/papel; 21 x 28 cm, 2015

17. Pontifex – acrílica s/tela; 42 x 39,5 cm, 2015

18. Pescadora 2– pastel seco sobre papel; 22 x 31 cm, 2016

19. Jonas – pastel oleoso s/papel; 42 x 30 cm, 2015

20. Koi – pastel seco e acrílica s/papel; 45 x 32 cm, 2015

21. O barqueiro – pastel seco e carvão s/papel; 42 x 30 cm, 2015

22. Diego - acrilica s/tela; 40 x 40 cm, 2015

23. Pequena figura- pastel seco e hidrográfica s/papel; 21 x 30 cm, 2016

24. Duas figuras - pastel seco s/papel; 31 x 32 cm, 2016

25. Gavril - pastel seco e grafite s/papel; 30 x 42 cm, 2016

26. Bento - pastel oleoso s/papel; 32 x 45 cm, 2014

27. O luminoso - acrílica s/papel; 32 x 45 cm, 2016

28. Airton - lápis de cera e acrílica s/cartão; 30 x 36cm, 2014




duas colagens

29. Ismália - colagem s/papel; 102 x 73 cm, 2004

30. Só se pensa - acrílica e colagem s/tela; 50 x 70 cm, 2016




Jardim da Galeria

31. O Cavaleiro 1 - acrílica sobre tela/44x60 cm; 2015

32. O Cavaleiro 2 - acrílica, colagem e hidrográfica s/tela/50x40 cm; 2016

33. Walther - pastel seco s/cartão/32 x 44 cm ; 2014

34. Rosazul - acrílica s/tela; 34x42 cm, 2016

35. Pensante/técnica mista s/papel / 31 x 39,5; 2016

36. Trindade - técnica mista s/ cartão / 50 x 40 cm, 2008

37. Chapeuzinho - técnica mista s/ cartão / 27,5 x 40 cm, 2008

38. Nekko - técnica mista s/papel / 36 x 46 cm






abertura: sábado, 25 de março, 2017 - 17h




la mínima galeria

av pedroso de morais 822 - pinheiros

agendamento de visitas pelo telefone 11 3578 0003




produção Camila Whitaker

montagem Miguel Paladino (curador residente)







Curriculum Vitae

Christiano Whitaker Nascido em São Paulo, 24/12/1940. Carreira Diplomática, 1967 a 2010. Nove postos no Exterior, dentre os quais os de Embaixador em Hanói (Vietnam) e Windhoek (Namíbia).

Estudos de pintura e desenho na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Rio de Janeiro), sob a direção de Orlando Mollica, e no ateliê de Fernando Zenshô Figueiredo.

Exposições:

Individual – Galeria Mezanino

Coletivas- Galeria Mezanino, Galeria Os Modernistas (Rio de Janeiro), Galeria La Mínima