quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Entremar


Foi através de correspondências e trocas de mensagens que eu conheci O trabalho da Teresa. O meu desejo de viajar a Portugal e a vontade dela expor aqui no Brasil, fez com que conseguíssemos reunir nossos
entusiasmos num encontro de coincidências.Pela segunda vez a artista, nascida em Lisboa, expõe no país e apresenta uma série de desenhos e pinturas, que partem de registros e uma viagem as praias do oceano índico, há dez anos atrás. A sequência de imagens remete ao próprio ritmo de quem está de viagem, na descoberta e na procura, pelo descobrir. O registro de quem está de passagem, com o olhar atento mas deixando se atravessar pelos estímulos. A artista parte do encanto pela geometria dos vestígios deixados na areia da praia por uma espécie de caranguejo que, no ato de sua escavação, joga para fora pequenas bolinhas de areia, que se espalham ao redor, formando um desenho circular na areia. Cada escavação forma um desenho diferente, gerando uma série de marcas na extensão da faixa de areia entre a praia e o mar.
A leveza e a sensibilidade do seu olhar desponta na maioria dos desenhos e aquarelas. O manejo da água nas aquarelas da Teresa insinua o ritmo de ir e vir das marés que aos poucos leva as marcas da areia.As camadas de tinta sobrepostas lembram o brilho da água sobre a areia, ofuscado pelos grãos de sal que a água do mar carrega. Uma camada opaca e transparente, que apaga as marcas da areia. Teresa registra esse movimento e o faz perene, revelando o brilho do entremar em Aquarela sobre papel e Água sobre areia.

por Beatriz Matuck (curadora)