segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Arte em comum comentário de Miguel Paladino


Tal vez esteja no título de um (belo) desenho de Julia, presente na coleção, a metáfora que mais se aproxima desta mostra: cantar de dor.

O curador, Rubens Matuck, montou esta coleção de trabalhos artísticos para mostrar (penso eu) que, assim como o uirapuru, certos artistas transformam a dor em canto, a dificuldade em ferramenta, a limitação em linguagem e conseguem expressar plasticamente essa ladeira acima em que vivem, fruto de variados acidentes no percurso de uma vida que, conforme testimonio dos trabalhos aqui expostos, soube sobrepor o incomum e brilhar com luz própria, com uma luz que domina as trevas, com gestos que controlam os materiais artísticos assim como o famoso passarinho da Amazônia controla seu canto perturbado pela adversidade da dor.

A comparação pode ser viciada pela pieguice mas, como haveríamos de entender esta produção artística cujo elo comum é, justamente, ser incomum?

Em princípio todo artista (verdadeiro) é incomum e isto posto não haveria por que ressaltar essa característica ou classificar esta coleção com esse epíteto. Prefiro dizer: artistas (à margem do mercado); livres (no sentido literal do termo), autênticos (pela experiência de vida) e, portanto, verdadeiros (ou seja, incomuns).



Coleção de arte incomum / Curadoria Rubens Matuck

Obras de Julia Paladino; Francisco de Almeida;

Eduardo Villares e Osmar Santos





De 14 a 26 de outubro, 2014

Lamínima galeria / av pedroso de morais 822

Agendamento de visitas pelo telefone 3578 0003